domingo, 31 de outubro de 2010

A primeira mulher presidente do Brasil!

Parabéns a Dilma e a todos que acreditaram nesta candidatura.

Verdade wins!

A vida da presidente será difícil tendo em vista a virulência que pude acompanhar dos comentaristas e pseudojornalistas da Globo News.

Mais uma derrota para oposição colonizadora e a mídia fraudulenta.

Mas não acabará aqui o embate, com certeza, não acabará.

Sintomático

Sexta-feira, na Faculdade de Direito da Universidade Federal do Paraná, apareceram dois chefes indígenas na aula de antropologia: um da fronteira com a venezuela, da região conhecida como "cabeça de cachorro", e outra, uma mulher, do Equador. Conversaram, expuseram toda a luta e sofrimento dos seus povos. A certo ponto, o primeiro disse: "Para preservar nossa cultura, precisamos que respeitem nossas terras. Afinal, nenhum índio pediu para que fosse cuidado por um branco." Também mostrou objetos indígenas e, no meio destes, duas figuras interesssantes: uma bandeira do PT e outra da Dilma. Ambas enormes. A explicação: "Pedi a meu filho que colocasse as coisas que ele mais gostava. E no meio das coisas da nossa cultura, ele colocou essas duas bandeiras. Por que será?"

Faltam poucas horas...

sábado, 30 de outubro de 2010

Verdade Vs Mentira

OBSERVAÇÃO

Quero fazer deste post um memorial em homenagem ao ímpeto colonizador e à mídia que  o apoia. Contra, precipuamente, a memória curta da história brasileira. Por isso será editado assim que eu lembrar/souber de novas notícias.

*** Editado em 06/11/10

Saiu o laudo do Instituto de Criminalística de São Paulo constatando que a pane no metrô de São Paulo, no dia 21 de setembro de 2010, foi causada pela superlotação em uma das composições, que acionou um switch responsável por fazer o trem parar de andar. Este switch é acionado quando a porta está aberta. A superlotação pode ter feito duas coisas: a pressão das pessoas dentro da composição pode ter forçado a porta e disparado o switch ou alguém pode ter esbarrado no botão que também impede o trem de andar. Tiro duas conclusões: 1. governo inepto de São Paulo mostrando sua total falta de capacidade em administrar a coisa pública; 2. Queda de credibilidade deste mesmo governo, que na pessoa de Alberto Goldman, insinuou ter sido o incidente fruto de sabotagem. Veja aqui.

Dossiê anti-Serra. Polícia Federal desmente as ligações supostas do PT com a feitura do dossiê contra Serra e seus correligionários e parentes. Comprova-se que quem encomendou o dossiê foi Aécio Neves. Neste caso o dossiê foi arma em uma disputa fratricida dentro do tucanato. No entanto, manchete do jornal O Globo liga, sem transparecer nenhuma dúvida, a ligação da campanha de Dilma com o dossiê. Veja aqui.

*** Fim da edição

Post Original:

Meus caros, sei que apenas poucos e diletos companheiros acompanham este blog mas mesmo assim vou oferecer mais uma contribuição pessoal para a campanha de Dilma.

Quem anda de mãos dadas com a oposição?

Começo com os factóides globais. Quero recuperar o escândalo da suposta pressão que Dilma Rousseff teria feito na então secretária da Receita Federal Lina Vieira para que "agilizasse" investigações. O dado concreto é que a data fornecida por Lina Vieira na qual teria havido o suposto encontra com Dilma foi objeto de investigação da reporter Cynara Menezes de Carta Capital que provou ser impossível um encontro das duas no dia mencionado. A acusação, como sempre, foi esquecida sem maiores problemas ou retratações. Na mesma época, Lina Vieira foi demitida pelo Ministro da Fazenda por ter aplicado uma multa na Petrobrás sem seu conhecimento. A causa da multa seria uma suposta mudança ilegal de regime propalada por todos os jornalões conservadores. Ver aqui http://oglobo.globo.com/economia/mat/2009/07/10/multa-petrobras-derruba-secretaria-da-receita-federal-756772437.asp. O que ocorre é que, em entrevista à Monica Waldvogel, no programa "Entre Aspas", falou o ex-secretário da Receita Federal, da época do FHC , Everardo Maciel. Não sei o que ela esperava dele. Talvez ela pensou que em tendo sido subordinado de Fernando, Maciel compactuaria com o factóide. Mas não foi isso que ocorreu. Desmentido o factóide e, diante de uma aprensetadora totalmente aturdida e contrariada, viu-se a esperança da oposição em tentar enterrar a Petrobrás na lama ser destruída. Sim, porque a oposição encabeçada pelo PSDB procurou usar a mudança de regime tributário, denominada por eles de "manobra contábil", como motivo de instauração de CPI no congresso. Aqui vai o vídeo do programa em questão.



Em um exemplo mais recente, tivemos a tentativa de tentar colar a pecha de violentos nos militantes do PT. É claro que tem gente idiota em tudo quanto é lugar, tanto no PT, quanto no PSDB, quanto na esquina. Mas como proceder a isto? Com fraude? O JN gastou sete minutos para tentar mostrar que José Serra tinha sido vítima de agrassão. Bom, parece-me que não foi bem assim. Como diz o vídeo, se Serra foi vítima, não é o vídeo mostrado pelo JN que mostra isso. Registro também o relato de um contato do Azenha que conta sobre a vaia que os próprios jornalistas do escritório paulista da Globo deram ao ver a macabra tentativa fraudulenta da Globo de tentar atacar seus opositores. O vídeo é do YouTube e só resta agradecer a quem o editou. A saber:



E por falar em fraude, um exemplo mais cabal ainda, veiculado pela Channel 4, canal televisivo britânico, é possível ver a movimentação funesta da organização de Roberto Marinho quando o assunto é derrubar opositores políticos.  Trata-se do documentário "Beyond Citizen Kane" sobre o modo de ser da Globo. Aqui vai o trecho concernente à disputa eleitoral de Lula e Collor, em 89.



Também sabemos o comportamento da mídia golpista em tentar novamente diminuir seus opositores, só que agora através da omissão: 7 minutos para provar um objeto de dois quilos, segundo o democrata Índio da Costa, acertando o cocoruto de Serra e nada em relação ao cordão de petistas que permitiu a passagem de uma carreata Serrista incólume durante o encontro desta com a carreata de Dilma em Diadema. As comparações a Hitler são um plus da fineza tucana. Senão vejamos na reportagem da Record:



Tanta polêmica em torno do aborto. Tivemos José Serra comungando em Aparecida. Tivemos até Monica Serra comentando que Dilma é a favor de "matar criancinhas". Os patrícios globais, no entanto, esconderam a suprema contradição: Monica teria feito um aborto. Muito estranho porque ela deveria saber mais do que ninguém o que é o sofrimento de ter de fazer um aborto, o tormento psicológico que acompanha tal decisão. Deveria saber, portanto, que isto é um problema de saúde pública. Deveria comungar do mesmo interesse em oferecer à mulher em tal situação tratamento e não cadeia. Mas não é o que aconteceu. Instrumentalização da religiosidade e da dor alheia a favor de uma campanha suja e fascista. E a Globo nem tchum para a revelação que Monica Serra teria feito em sala de aula para suas alunas. Espiem:



Por falar em aborto, gostaria de também de indicar um artigo de Leonardo Boff sobre a recente intervenção do Papa nas eleições brasileiras. Tomo para mim a ousadia de reproduzir um trecho ESCLARECEDOR do artigo, repassado por Luiz Carlos Azenha aqui http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/leonardo-boff-aborto-e-o-papa-e-importante-nao-sermos-vitimas-de-hipocrisia.html

"É bom que mantenhamos o espírito crítico face a esta inoportuna intervenção do Papa na política brasileira fazendo-se cabo eleitoral dos grupos mais conservadores. Mas o povo mais consciente tem, neste momento, dificuldade em aceitar a autoridade moral de um Papa que durante anos, como Cardeal, ocultou o  crime de pedofilia de padres e de bispos." Revelador.


A Globo e a Veja são a ponta da lança do fascismo brasileiro. Dos sentimentos colonizadores da elite branca e perfumada contra a maioria brasileira que luta para ter saúde dentária. Aqui temos um exemplo de como a Globo se comporta como partido político. A questão não é malevolência de assumir um lado; é, de outro modo, dizer-se imparcial e acima de interesses partidários quando não é. Aqui temos um exemplo dessa contradição. Vale dizer que a Globo e a Veja vão além, partem para "manobras jornalísticas", para usar o jargão de O Globo.

Versão Record 



Versão Globo para o mesmo fato



De outro lado, temos a inevitabilidade e inexorabilidade dos fatos. Quero agora falar um pouco sobre a conjuntura sócio-econômico, que já prometi há dias atrás. Disse acima que utilizaria mais imagens do que palavras, mas isto me parece meio difícil. Sem rodeios: Lula pode ser o que Franklin Delano Roosevelt foi para os EUA, vale dizer, um paradigma político que deu o ponto de partida para a transformação de uma sociedade miserável em sociedade , senão de absoluta, devido a contingência da realidade, mas de predominante similutude de condições materias decentes para seus cidadãos.

Aqui são importantes as idéias de John Maynard Keynes, eminente economista inglês, altamente empregadas como solução de depressões econômicas, levadas a cabo por Roosevelt durante a grande depressão americana, que consistem no seguinte: deve-se, sobretudo, colocar dinheiro na mão do povo, procededendo à construção de obras públicas para gerar emprego, promovendo transferências de renda, o pleno emprego, etc. Ele usava inclusive uma alegoria para explicitar a importância da ação do governo: a de que o governo deveria colocar dinheiro dentro de garrafas e lançá-las ao mar se fosse o caso; o importante era o Estado não ficar parado. Pois que parece a vocês leitores? Alguma semelhança com o PAC e o Bolsa Família?

Em artigo publicado na revista Piauí,  André Singer  esmiuça a comparação com riqueza de detalhes que não deixam dúvida. Gostaria de destacar o trecho em que ele diz que, se o esforço lulista for bem sucedido na continuição com Dilma, retomaremos ao horizonte interrompido pelo de 1964. Vale dizer, que nos 40 que se seguiram, com ditadura militar e governo neoliberal tucano, tivemos aumento da pobreza e queda do salário mínimo, ou seja, começamos a regredir. Só agora temos a chance de chegar onde estávamos em 1964, com uma equiparação do salário mínimo ao nível daquela época e equiparação do nível de pobreza ao dos anos 60. Conclusão: 40 anos perdidos. Pergunto aos militares, mas só aos recalcitrantes: revolução de 1964 meus senhores? REVOLUÇÃO?


Para sedimentar os avanços acima expostos, com a palavra, Joelmir Beting:



Dilma aparece como a continuação de tudo isto. É, portanto, hoje, a  melhor opção.

Gostaria de terminar com o discurso, retirado do site oficial da candidata, de Leonardo Boff e a ponta de Chico Buarque no ato das eminências culturais a favor de Dilma Rousseff no Rio de Janeiro. Para lembrar que nem só de ecologia espacial vive o homem, mas também de ecologia social.



Sem mais, que a verdade vença a mentira. Bom voto!

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Título

Pessoal, mudei o título porque de repente me ocorreu que era demasiadamente grande e podia passar um ar pretensioso ao invés de ser inovador/cáustico/descolado. Enfim, achei ele brega e mudei. Nada mais a declarar.

Indicações

Bela crônica sobre o aniversário do nosso estimado Presidente feita pelo Prof. Guilherme, explicitando a marca indelevel deste fabuloso brasileiro deixada na vida do autor.

Confiram em
http://prof-guilherme.capesp.org/?p=688

sábado, 23 de outubro de 2010

O que não se quer à vista 2

A aparição de Leonardo Boff na breve estada de Dilma Rousseff em Curitiba me lembrou uma série de raciocínios que acredito serem interessentes para o período em que vivemos. Isto envolve um dos temas que eu mais gosto: a religião. Em um escrito fantástico, que na verdade é uma transcrição de uma conferência, presente no opúsculo "Tempo de Transcendência", Boff explicitou muitas das idéias que me causaria grande impressão desde então. 

Deixando claro que vou me referir precipuamente ao cristianismo brasileiro, quero usar dois conceitos apresentados por Boff na obra mencionada para trabalhar a conjuntura sócio-política atual: refiro-me ao binômio epifania/diafania. Este dualismo representa maneiras opostas de se enxergar a existência de Deus, dois tipos distintos de exercitar a religiosidade. A epifania, de longe a predominante em todos os tipos religiosos, é aquele fundamento que coloca Deus no exterior. Nas palavras de Ludwig Feurbach em "A Essência do Cristianismo", o viés epífano postula um Deus "diverso do ser pensado, um ser exterior ao homem, ao pensamento, um ser real, um ser por si." O que Feurbach afirma é a cisão entre homem e Deus, o segundo estando na exterioridade, existindo sem que o primeiro exista, entidade diversa e independente. Pois a epifania é justamente a aparição do divino. Assim, em um modo epífano de viver a religiosidade, esperamos o Deus que está lá fora, esperamos a sua bênção, a sua mão abençoada a nos acalmar, seus gestos a nos impulsionar frente a uma dificuldade. Já a versão diáfana da religiosidade é de todo modo diverso: Deus não está lá fora, mas está dentro de nós, dentro de cada pessoa. Aqui  demanda-se justamente que toda a bênção seja fruto de uma ação humana, Deus não se manifesta independentemente já que se produz a partir do ser humano. Metaforicamente é a divindade "saindo" do ser terreno,  a materializar-se, de forma agora palpável, sob a forma de atitudes através da transparência humana. O ser humano torna-se transparente para que Deus se manifeste através do primeiro. Daí a denominação diánafa, vale dizer, aquilo que permite a passagem da luz, literalmente.

Diante dessas duas premissas, acredito que o viés epífano da religiosidade, embora não signifique necessariamente tudo o que vou dizer, é de fato eivado de um vício fatal: a passividade. Explico: se Deus é externo a nós, então todas as benesses são esperadas dele, ou seja, da exterioridade, de um canal praticamente e literalmente extraterreno. A lógica do milagre é um bom exemplo disso, como nos diz Feurbach, sendo uma total negação do processo vital. O milagre, segundo este autor, é um pulo de etapas necessárias a consecução de algo ou a criação de uma etapa logicamente impossível. Usando sua metáfora: sendo a vida um círculo no qual viver é percorrê-lo, o milagre é como pretender chegar a dois pontos deste círculo através de uma linha reta (milagre) e não atravẽs da linha circular (a vida em comum). Se Deus é externo, eu peço as bênçãos e espero. É claro que não há uma total inércia do indivíduo e muitas vezes o que é fruto de seu trabalho é tido como uma bênção. Também não nego a existências de milagres porque só a onipresênça e a oniciência me permitira tal posicionamento; apenas quero explicitar uma consequência prática da passividade. O que importa, fundamentalmente,  é que na epifania, o louvor a Deus fica em primeiro plano, sendo que a solidariedade acaba sendo encarada apenas como dever secundário, de muitíssima importância, pelo menos teoricamente, mas sempre aquém do dever de amar a Deus sobretudo. Há atividade para louvar o Deus externo, sobrando a passividade para os nossos iguais. O motivo pelo qual a epifania conduz a viver o amor secundariamente relatarei em seguida. Quero fazer ressalvas aos movimentos religiosos extremamente salutares na feitura de caridades, mas aqui falo não de alguns núcleos religiosos esclarecidos e sim levando em conta o grosso dos que se intitulam religiosos.

Se minha religiosidade é diáfana, no entanto, louvar a Deus é, inexoravelmente, amar o próximo, ou, nas palavras de Boff no ato das eminências culturais a favor de Dilma no Rio de Janeiro, "praticar o evangelho da solidariedade". Se Deus está presente em cada um e em mim, firmam-se as seguintes premissas: (1) Deus só se manifesta se eu for solidário, (2) só é possível louvar ajudando o próximo, já que Deus está também nele. Vejam vocês que nesta linha de espiritualizar não sobra espaço, ou este é deveras reduzido, para a louvar um ser externo e estranho a mim e aos outros seres humanos, que não precisa necessariamente de nós para existir. Louvar Deus é necessariamente agir solidariamente com o próximo. Não há alternativas. Na diafania, milagre não é excluído, mas, se acontece, faz parte de um processo de entrega humana muito maior. Em suma, praticar a religião é expressar o que há de divino em você e isto se faz praticando o que de mais sagrado e nobre há para o cristianismo: o amor. E este amor não é sozinho. Não se ama sozinho. É um verbo necessariamente transitivo! A intrasitividade do verbo amar nos conduz a uma solidão avassaladora, como nos contaria Mario de Andrade em belíssimo romance.

Pois agora, chego ao ponto crucial da questão. O Deus epífano, exterior que é, como qualquer um acima na hierarquia, exerce, ou pode exercer, indelevelmente, autoridade. E eis a consequência fatal do vício fatal: a potencialidade de manipulação. Se Deus é externo, ele pode ser qualquer coisa. A solidariedade pode perfeitamente ser relegada a um terceiro plano. E se Deus pode ser qualquer coisa, quem vai ditar o que ele é, o que ele significa, e, afinal, o que ele diz, o que ele sentencia, o que ele ordena? Se Imannuel Kant, nos idos do século XVIII, clamava para que o povo chegasse ao esclarecimento (Aufklärung), sendo isto, basicamente, a capacidade de pensar por si próprio e discutir principalmente os dogmas em geral, fica claro que nos tempos atuais o objeto do clamor ainda é perfeitamente o mesmo. Os dogmas não se discutem, as idéias são impostas, não há pensamento autônomo e a massa religiosa fica a mercê de quem comanda, não uma religião, mas a instituição política na qual se transformou a religião, pelo menos no Ocidente. Deus é o que os pastores, padres, bispos, Papas e demais autoridades dizem que é. Porque ele é externo e, portanto, apropriável. Ao contrário, parece-me, que a única autoridade do Deus diáfano é a autoridade do amor e da solidariedade.

Vejam que eu não reputo o Deus epífano como necessariamente maléfico mas afirmo sim, com extrema segurança, que tal viés é extremamente frágil, sucetível de apropriações em função de objetivos escusos ou a fundamentalismos. Os líderes religiosos passam a movimentar as massas que, passivas, assistem e aderem ao espetáculo que, muitas vezes, emerge com laivos de indiscutível perversidade e crueldade. E isto porque o mais importante mandamento de Cristo é extremamente difícil e requer atividade e não passividade: amar o próximo, muitas vezes, beira os limites da abnegação, do extremo despreendimento, da incondicionalidade. Efetivá-lo muitas vezes é das tarefas mais hercúleas. Se Deus já é externo e me encontro em posição passiva, amar é uma coisa difícil que tem espaço somente na leitura bíblica e na confraternização entre os membros da própria igreja, ou às vezes nem isso. Se amar passa a ser algo indigesto, como louvar o Deus epífano? Resta basicamente seguir regras de moral inscritas no livro sagrado que, é bom lembrar, é de certa antiguidade. O notável professor de filosofia da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Paraná Celso Ludwig dá uma breve e competentíssima explicação acerca deste assunto. Diz o mestre que "fazer uma leitura anacrônica de algo antigo é lê-lo como se lia à época de sua criação. De outro modo, fazer uma leitura diacrônica e diatópica é ler algo antigo atualizando-o de acordo com o tempo em que a leitura é feita." Ora, temos que, na maioria dos casos em tela, a leitura de tais regras morais eleitas pelos fiéis é de um anacronismo rasgado. E tais regras, para a tristeza de Kant, jamais são discutidas. Sobre isto, Celso Ludiwig diria que "o fundamentalismo é uma atitude sobre os fundamentos de algo. Basicamente é ler os fundamentos como dogmas, leis sobre as quais não nos é dado discutir". Soma-se então o anacronismo, fundamentalismo e imposição e temos a fórmula das tragédias religiosas ao longo das eras. A tolerância, no caso em tela, é o único freio para impedir a crueldade. Temos aqui a resposta para o porquê do amor ser vivido secundariamente sob a influência do Deus epífano.

Em uma vivência religiosa na qual o amor aparece em posição de menor importância, é necessário eleger critérios para distribuição de benesses por parte do Deus epífano, exterior. Serão as regras morais, de condutas, todas carregando em seu bojo as características descritas supra. Por conseguinte, melhor cristão será aquele que melhor atende às condições estabelecidas neste esquema de mérito e, como não se tratará obviamente da conduta solidário-amorosa, serão aqueles mandamentos morais que os líderes escolherem. Para a diafania, não há escolha: o louvor é a ação solidária, a amizade e o amor. Se Deus está no outro, só no outro é que encontrarei o divino. Ao contrário da epifania, que deixa escolhas na quais geralmente se prefere, entre o certo e o fácil, o caminho menos espinhoso; escolhas estas passíveis de desvios de cunhos dos mais diversos possíveis, nem sempre saudáveis.

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Disse que esta discussão se ligaria à conjuntura sócio-política da atualidade e agora pretendo demonstrar esta conexão. Acredito ser possível entender a onda de fundamentalismo e ódio religioso movidas contra a candidata do PT se entendermos a função religiosa nos moldes do esquema epifania/diafania. Aqui, de modo algum quero identificar Dilma Rousseff com qualquer tipo de messianismo ou de ligação com salvação. Quero, contudo, afirmar minha crítica a este modo pouco produtivo, pouco inteligente, pobre e potencialmente cruel de viver a religiosidade, sobretudo a religiosidade cristã no Brasil. Forma esta que não somente propicia mas como convida ao ensetamento de práticas de perseguição cruéis, não só contra a candidata do PT, mas contra gays, lésbicas,  não dizimistas, divorciados, mulheres que abortam e todo o tipo de gente que não se enquadra nos termos morais eleitos como chave do portão do Éden.

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Em tempo 1

Quero parabenizar a Carol por ter abraçado (duas vezes) e ter tido um dedinho de prosa com este sujeito admirável que é Leonardo Boff na esquina do prédio histórico da UFPR, no, que já é notório e festejado, dia 21/10/10. Queria ter estado presente mas, de alguma forma, senti que me fiz presente através dela.

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Em tempo 2

Quero também agradecer a manifestação de apreço por parte do Prof. Guilherme e dos demais colegas que se aventuram por aqui. E por falar no Prof. Guilherme, indico para leitura sua ótima e sucinta análise de como se deve ler, saudavelmente, o bolinhagate: http://prof-guilherme.capesp.org/?p=619. Também parabenizo a feitura do manifesto pró-Dilma em Mongaguá! Que venham dias melhores!

domingo, 17 de outubro de 2010

O que não se quer à vista

Caríssimos aventurosos, não sem certo atraso, reconheço, aqui vai o meu agradecimento ao Prof. Guilherme pela força dada para este blog. Fica também a recíproca desde já estabelecida. Recomendação para leitura de alta qualidade, confiram: http://prof-guilherme.capesp.org/ 

E agora, sobre a eleição, que é o assunto tormentoso do momento. Falar por partes, para não cansar (muito) , e diretamente também: Porque não votar em Jose Serra? Vejamos, Serra implodiu a educação paulista (ver informações de quem literamente está por dentro da educação paulista no blog citado supra), bateu em professor, botou a polícia dentro da USP, bateu em policial. Além disso exalta-se como mentor máximo dos genéricos quando, ao meu ver, tinha te dividir a importância, pelo menos, nesta implantação com as tentativas de Eduardo Jorge em 1991, Jamil Haddad no Decreto 793 e o mesmo Eduardo Jorge na lei de 1999. De certo que foi um esforço; no mínimo uma construção coletiva através do espaço/tempo. Serra teve um papel importante nesta história, mas daí o candidato tentar se arvorar em algo que personifique a imagem de herói, de suprassumo, em detrimento dos demais artífices, soa um pouco forçado. 

O candidato também carrega nas costas o fato de terem sido apuradas compras superfaturadas de ambulâncias sob os auspícios do Ministério da Saúde durante sua gestão. Além disso, temos a questão "Paulo Preto", denunciada por tucanos, em um genuíno fogo amigo, acusado de: (1) arrecadar dinheiro de caixa dois para campanha tucana; (2) sumir com o dinheiro desse caixa dois; Ainda, segundo auditoria da Fiscobras, era responsável pela fiscalização de obras no estado de São Paulo sobre as quais chegou-se à conclusão de que houve superfaturamento escandaloso, na ordem de 32 milhões de reais. Adiciona-se ainda que, na operação Caixa de Pandora, engendrada pela Policia Federal, apurou-se que no esquema de corrupção envolvendo o renunciante Arruda no Distrito Federal, há fortes suspeitas de que os pagamentos vultuosos de propina eram feitos para o Sérgio Guerra, presidente nacional do PSDB e coordenador da campanha de Serra, e Agripino Maia, parlamentar do DEM, aquele partido ex-PFL e, antes, ex-Arena, partido geminado aos torturadores, autoritários, estupradores, criminosos de lesa humanidade, etc., Agripino Maia, aquele mesmo que quis fazer a mentira perante a tortura parecer vergonhosa, sendo posteriormente trucidado por uma Dilma Roussef muito mais solta e espontânea. Pois este mesmo senhor aparece agora puxado pelo vácuo do obscurantismo ético e legal provocado pelo governo de Arruda. (Verifiquem Carta Capital 618 para mais informações)

É isto que José Serra representa, mas não somente isso. Poderia se objetar que para um Paulo Preto tucano, há uma Erenice petista. E de fato é verdade. Parece-me que a corrupção, apesar de toda a luta, continua endêmica no Brasil. E o PT fez pouquíssimo para mudar a conjuntura e isso quando não contribuiu para o lado contrário, com o caso de caseiros Francenildos e campanhas de caixa dois com Valérios da vida. Mas uma coisa não se pode negar. Acredito haver gente boa neste governo, apesar da inércia, do clientelismo, do fisiologismo. E a prova maior disso são os avanços brasileiros. Votar em Serra é fechar o canal que a essa gente boa tem e que nós também temos de ousar mais mudanças para o Brasil. E é aqui que entra, ao meu ver, para além da corrupção, presente ao que parece nos dois pólos políticos adversários, o principal vício que José Serra representa: o esquema de dominação.  Pois me parece claro que as elites do Brasil, poquíssimo democráticas, rancorosas e egoístas, querem conservar seus privilégios sorvendo o sangue da população carente, mantida convenientemente em clara ignorância política. Querem fazer ,do povo, massa de manobra política das mais rasteiras. Digo para vocês: com Serra não vem o Diabo não, mas vem os ruralistas, latinfundiários obstaculizadores da reforma agrária, as elites econômicas ávidas pela manutenção do status quo, a mesma meia dúzia de famílias que controla o poder midíatico no Brasil, etc., O que o governo Lula alcançou foi uma porta de entrada para que o Brasil passe a fase da miudeza e alcance o esclarecimento. O esquema de dominação que perdurou durante 500 anos nesse país precisa continuar retido nos porões, destinados à putrefação, do conservadorismo obtuso e arcaico.

Ainda preciso comentar, ou melhor, fazer uma defesa dos programas assistenciais do governo Lula e falar de outros desmandos midiáticos pró tucanos de fazer corar o mais beato dos beatos.  Mas fica para outra hora.

domingo, 10 de outubro de 2010

Dilma e o aborto

Aos exíguos caríssimos, só para (re)começar e pelo dever cívico, feito sem receber nem um niquelzinho somente, publico aqui em parceria com Carolina S. Nascimento o que se segue. O texto é de nossa autoria e a imagem de fundo é de autoria do ilustreBOB (acesse www.ilustrebob.com.br/2010/lula-vs-fhc/ para ver um sensacional infográfico comparativo).

Clique para aumentar.