sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

A queda da democracia

Sinto que estamos perdendo a guerra para o setor conservador. A tragédia no Rio de Janeiro, desconfio eu, deve ter trazido alento ao governo de São Paulo estado e capital. Desviou completamente a atenção das cheias dos rios, da capital inundada, dos paulistanos à mingua. A mídia conservadora segue no seu intento de fazer valer sua verdade, a de que Lula foi o culpado pela tragédia carioca. Afinal, a União investiu pouco, a União não previne, a União se omite. Se os repasses constitucionais são feitos e o dinheiro é mal utilizado pelo governo do RJ e das respectivas prefeituras, isso não importa. O que importa é bater na figura mítica do Presidente e, quem sabe, como diz Paulo Henrique Amorim, armar a cama de gato para limar a esquerda do poder deste país. Mesmo que este país cresça e as pessoas parem gradativamente de morrer de fome. Mesmo que os jornais internacionais destaquem o programa Bolsa Família como um fenômeno de distribuição de renda, somente equiparável ao Oportunidades do Mexico. O que importa é manter a colonização: sempre há quem ganhe com a pobreza. Sempre há quem se ache superior. Pois não acho que uma sociedade igualitáriamente rica traria tantos entraves assim para os ricos, que ficariam menos ricos, mas nem tanto. O sentimento de superioridade sócio-racial é maior: sim, porque o branco rico é mais e melhor do que o branco pobre, que deve pertencer à uma estirpe que perdeu conexão com a linhagem cristã pura, daqueles que são abençoados. De resto, pobres brancos e negros, pobres em geral, não são dignos. 

Não acho que, neste momento, os estudos sejam necessários. Estudos sempre são bem vindos, mas já temos o suficiente pra destrinchar o modus operandi dos inimigos da república, da democracia e da isonomia. Resta agora é agir. A tragédia do Rio de Janeiro, penso eu, faz aflorar o pensamento errático dos homens. Não escondo que movo uma cruzada contra a religião cristã, na maneira como é vivida, e contra a falta de apego à política, única forma de tirar as pessoas da miséria. No entanto, também reconheço as dificuldades de mobilização, de sair da inércia, de tentar bater de frente com o status quo: mudar a cabeça das pessoas é das mais ingratas tarefas. Os que sobreviveram às enchurradas do Rio não são abençoados por Deus, mas sim simplesmente sortudos. Benção não se distribui aleatoriamente ou por um merecimento ciclópico que leva a pessoa um pouco mais cuidadosa a se perguntar: a vida virtuosa tal como prega a religião me faz uma pessoa melhor a ponto de me escolher para a vida e condenar as outras, não adeptas, à morte? E como fica a morte dos adeptos? A frase mais perniciosa da história responde: pois Ele quis, pois Ele age de maneiras misteriosa, ou ainda que escreve certo por linhas tortas. Enquanto isso as pessoas chafurdam na miséria.

No mesmo país, São Paulo capital eleva o preço do onibus para 3 reais. Para se ter uma idéia, 0,80 centavos a mais do que o preço em Curitiba, a tal cidade modelo e maior engodo urbano produtora de aberrações políticas como Beto Richa e Cássio Taniguchi. O autobus de SP é para ricos, nem isso é para pobre. Pior é a forma como a PM paulista lidou com os estudantes que resolveram se manifestar contra este absurdo patético da prefeitura paulistana. Há o vídeo no You Tube e circulando pela blogosfera indenpendente, de alguns jornalistas corajosos. Trucuência policial não contra estudantes ranhentos, esquerdinhas ou maconheiros. É bala de borracha na democracia mesmo. Na república. Na isonomia, na dignidade da pessoa humana. Porque a polícia vira modo socialmente aceito de se sublimar o espírito cruel do ser humano, arranja-se uma forma aprovada socialmente para exercer o que, em outro lugar e em outra circunstância, é execrada de maneira intestinal pelos telespectadores (Alguém  lembrou do Sandro que esqueceu a primeira metade do nome?). E contra quem violentar? Contra os estudantes vagabundos, contra os pretos malditos, os nordestinos sujos que votam por comida (e que motivo mais nobre teria?).

Realmente a cobertura jornalística das enchentes do Verão de 2011 ficarão para história: obras políticas protetoras dos interesses dos dominadores, dos corruptos. Uma completa lavagem cerebral na cabeça do povo brasileiro que, apesar de mais nutrido, continua lamentavelmente perdido e ignorante. É uma obra prima. A isto soma-se a repressão tucana aos manifestantes na capital, que ousaram expressar descontentamente com uma passagem de ônibus de 3 reais. O que é veramente um absurdo. Chamem o Totó, a Mariana Ximenes, a Maitê proença dos cabelos congelados, que até prefere um pouco de truculência machista para salvar o Brasil da Dilma, a comunista comedora de criancinhas! Penso que há uma guerra neste Brasil. A guerra é por poder, e quem a alimenta é o povo ignorante e ignorado. E a cada vez que assistimos os mesmos programas e nos recusamos ao protesto, mesmo que ínfimo e de caráter estritamente subjetivo, interno á consciência, colaboramos com o projeto de dominação. Não é questão de radicalizar, mas questão de ter consciência e conversar com as pessoas. Pois a palavra é, acredito, a arma mais importante. O mal é sempre o que saí da boca, tanto o mal para o justo quanto o mal para o injusto que, por lógica, é um bem. Mas a guerra não vista é a pior: não mobiliza. O estado de torpor continua.

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